Releitura – Ferreira Gullar

Scary Clown ~ Graeme Maclean

Poema obsceno

Façam a festa
     cantem e dancem
que eu faço o poema duro
          o poema-murro
          sujo
          como a miséria brasileira

   Não se detenham:
   façam a festa
        Bethânia Martinho
        Clementina
   Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
   gente de Vila Isabel e Madureira
                    todos
                    façam

      a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
         este surdo
            poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
         Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
         o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do
país
         – e espreitam.